
Por que existem tantos “psicólogos ruins” no Brasil? Uma reflexão necessária
Você já se perguntou por que tantas pessoas relatam experiências negativas ao procurar ajuda psicológica? Comentários como “meu psicólogo não me ajudou” ou “parecia que eu estava falando com uma parede” são mais comuns do que gostaríamos. Mas será que isso acontece porque a psicologia, como ciência e profissão, é ineficaz? Ou porque algo está falhando na formação e prática de alguns profissionais?
Psicólogo Angelo Junqueira Guimarães
9/1/20252 min read


Muita gente já me perguntou ou comentou comigo sobre experiências ruins com psicólogos. Já ouvi frases como “parecia que eu estava falando com uma parede” ou “não me senti ajudado em nada”. Isso me preocupa bastante, porque acaba passando a impressão de que a psicologia não funciona — quando, na verdade, o problema muitas vezes está na forma como alguns profissionais estão sendo formados ou exercendo a profissão.
Ao longo do tempo, percebi que um dos grandes desafios está na distância entre teoria e prática. A graduação em psicologia, em muitos lugares, enfatiza demais os livros, os conceitos, as discussões acadêmicas, mas deixa em segundo plano a vivência clínica. O resultado são profissionais que saem da faculdade sabendo muito da teoria, mas inseguros para lidar com o sofrimento real das pessoas. Psicologia não se aprende só na leitura: é preciso escutar de verdade, praticar a sensibilidade e estar presente no encontro com o paciente. Sem isso, o trabalho corre o risco de virar algo mecânico, sem profundidade.
Outro ponto que considero essencial é a supervisão. Eu mesmo já passei por supervisões que foram transformadoras, porque é nesse espaço que a gente aprende a enxergar os próprios limites, a lidar com situações delicadas e a encontrar caminhos mais responsáveis para conduzir cada caso. Infelizmente, muitos colegas acabam atuando sem esse apoio, o que os deixa vulneráveis a erros e a práticas pouco éticas.
Também vejo com preocupação o excesso de apego a técnicas prontas. Quando o psicólogo se prende a protocolos rígidos, frases decoradas ou “receitas de bolo”, perde a chance de enxergar a singularidade da pessoa que está à sua frente. Não é a técnica que muda a vida de alguém, mas sim a escuta qualificada e a compreensão profunda da sua história.
E tem ainda a pressão da nossa sociedade por resultados rápidos. Muitos pacientes querem respostas em poucas sessões, e alguns profissionais acabam cedendo a essa lógica imediatista. Só que processos de mudança genuína exigem tempo, continuidade e paciência. Quando essa pressa domina o atendimento, o cuidado perde qualidade e fica superficial.
Não dá para deixar de falar também das falhas éticas. Existem casos de profissionais que ultrapassam limites, exploram vulnerabilidades ou desrespeitam o código de ética da psicologia. Isso não só prejudica diretamente quem buscou ajuda, como também coloca em dúvida a credibilidade da nossa profissão. Ética, para mim, não é opcional: é o que sustenta a confiança entre psicólogo e paciente.
Diante de tudo isso, eu não acredito que devamos olhar para esse cenário com pessimismo, mas com responsabilidade. A psicologia é uma ciência séria, com um potencial enorme de transformação. Mas para que isso aconteça, nós, psicólogos, precisamos investir em supervisão constante, buscar experiências práticas de qualidade, nos manter atualizados e, acima de tudo, respeitar a dignidade de cada pessoa que confia em nós.
Quando me perguntam por que existem tantos psicólogos ruins no Brasil, eu não vejo essa pergunta como uma crítica gratuita. Eu a vejo como um chamado à reflexão. A psicologia pode, sim, mudar vidas — eu vejo isso todos os dias na minha prática clínica. Mas essa transformação só acontece quando o profissional está comprometido de verdade com a ética, com o estudo e com a presença no processo.
Cuidar da mente não é luxo. É necessidade. E cada pessoa merece ser recebida com respeito, atenção e humanidade.
